Foi através da Joana Lopes, e do seu Entre as Brumas da Memória, que descobri o blogue extraordinário Não Apaguem a Memória. Porque é de facto importante não deixar apagar a memória. Não deixar que branqueiem a nossa história recente. Há efectivamente quem queira apagar da nossa memória colectiva os grandes nomes da Ciência e da Cultura Portuguesa do Século XX. É fácil perceber porquê. O avivar das perseguições politicas e da repressão do regime fascista português, contra quase todos, para não dizer todos, os vultos da Ciência Portuguesa do Século XX, poria a nu a responsabilidade desse regime no atraso secular, científico, cultural e social, de Portugal. É preciso dizê-lo abertamente. É para isso que este blogue foi criado. É também por isso que servem textos como: A Asfixia do Movimento Científico em Portugal, da autoria de Paula Cabeçadas, baseado num trabalho de Jorge Rezende. Muito bem. Devemos, portanto, lamentar a censura relativamente a este assunto, de que eu próprio sou testemunha, movida pelos principais órgãos da comunicação social portuguesa. A prova está também no seguinte. Em todo o blogue Não Apaguem a Memória, não existe uma referência directa, por exemplo, ao Professor Mário Augusto da Silva. Mário Silva encabeçou a lista dos univeristários afastados pelo regime salazarista em 1947, tendo também sido preso pela PIDE. Não seria motivo suficiente para que, num blogue como aquele, ele fosse minimamente referido? Cientificamente, penso que o texto já publicado diz bem do seu valor, embora ainda muito incompleto. Politicamente, basta dizer que Mário Silva foi membro do Comité Nacional e da Comissão Executiva (a convite de Bento de Jesus Caraça) do MUNAF, Movimento de Unidade Nacional Anti-Fascista, do qual foi presidente o General Norton de Matos, foi vice-presidente da Comissão Distrital por Coimbra do MUD, fez parte da ADS, foi candidato, pela oposição, a deputado à Assembleia Nacional, nas listas de Humberto Delgado, etc. Para um cientista da sua craveira, não merecia pelo menos duas linhitas, sei lá? Como pôde o historiador António Reis confundi-lo com o Brigadeiro Mário Silva?...
Não é estranho? Em minha opinião, claro, é inadmissível. Se lerem, com atenção, o Natureza Naturada, perceberão bem a injustiça que é. E porquê? Primeiro porque ninguém conhece. Segundo porque também evitaram que conhecessem. E terceiro, sofremos ainda com a herança do antigo regime, que aqui queremos combater: infelizmente, estas coisas da ciência ainda não dizem muito aos portugueses, mesmo aos teoricamente mais cultos.
Não quero concluir sem dizer o seguinte. Devemos também lamentar o péssimo serviço público de comunicação social prestado ao país, da completa responsabilidade de todos os partidos portugueses que, passando pelo governo da nação, durante os últimos 33 anos de democracia, foram coniventes com aquela postura de branqueamento. Ingenuamente, por ignorância, eu sei! Caso contrário, a população portuguesa deveria conhecer melhor homens como Egas Moniz, Abel Salazar, Aurélio Quintanilha, Mário Augusto da Silva, Ruy Luís Gomes, Bento de Jesus Caraça, Pulido Valente, Manuel Valadares e tantos outros, como conhece fadistas e futebolistas! Certo?
1 comentário:
Entretanto, fazemos a seguinte correcção. No blogue "Não apaguem a Memória", já é possível ler qualquer coisa sobre o Professor Mário Augusto da Silva.
http://naoapaguemamemoria2.blogspot.com/2008/02/professor-mrio-augusto-da-silva.html
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