A propósito de "papas na língua" e do comentário do cozinheiro solitário, comentei que os cozinhados "perdidos" da Maria, criada do meu tio-avô, que vivia entre o Açor e a Estrela, ficaram imortalizados na escrita de Miguel Torga. Por coincidência hoje recebi uma colecção de diapositivos da autoria de Luís Aguilar e Vitália Rodrigues, concebidos a partir de uma Fotobiografia de Clara Rocha, nas comemorações do centenário do nascimento do médico escritor.
A coincidência tornou-se enorme porque, nesta colecção, para grande espanto meu, deparei-me com uma fotografia de 1958, tirada durante o comício do General Humberto Delgado no teatro Avenida em Coimbra, mostrando uma ovação do público presente ao Dr. Adolfo Rocha.
Fotografia de 1958 tirada no teatro avenida em Coimbra durante uma ovação ao Dr. Adolfo Rocha (à esquerda). Mário Silva está na mesma zona, do lado direito (retirada dos diapositivos).
É que, em Novembro passado, eu tinha publicado aqui mesmo, a propósito das actividades políticas do Professor Mário Augusto da Silva, uma fotografia tirada exactamente no mesmo local, mas de um ângulo ligeiramente diferente!!!...
Fotografia de 1958 tirada no teatro avenida em Coimbra durante uma ovação ao Professor Mário Silva (à direita). Adolfo Rocha está na mesma zona, mas do lado esquerdo (Foto Gaspar).
Esta coincidência, aqui documentada, é também prova inequívoca de que, durante este surpreendente comício, assistiu-se a ovações sucessivas do público presente, sob a batuta do General sem Medo, com certeza, aos intelectuais portugueses presentes, que sempre tiveram coragem de enfrentar o antigo regime. Pagaram caro, com a perseguição, prisão e demissão, a sua coragem e determinação na luta pelos ideais da liberdade, contra a mordaça, a mesquinhez e a ignorância. Conclui-se, portanto, que este comício foi também uma homenagem a estes portugueses geniais e, por isso mesmo, uma afronta clara a Salazar e aos seus correlegionários. Em suma, uma baforada de liberdade, no meio de infindáveis anos de mordaça na boca, para júbilo de todos os presentes. Foi com certeza um dia inesquecível para todos.
Se Mário Silva se destacou na Ciência, parente pobre da nossa cultura, Miguel Torga destacou-se nas Letras. Pena que não tivesse ganho o Nobel da Literatura quando foi nomeado em 1960. Os diapositivos de Luís Aguilar e Vitália Rodrigues são um um olhar, sobre a vida e obra deste génio das Letras Portuguesas, que queria aqui deixar. Aos autores agradeço poder, neste espaço, partilhar convosco este seu olhar.
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