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14/04/09

O Professor Marito

O Professor Marito,
Homem de Ciência, Homem livre, Homem.

É assim que Ricardo Kalash define o Professor Marito, personagem principal do seu livro de estreia "A Saga do Arco-Íris", editado pela Mar da Palavra. Trata-se de uma peça de teatro que marca a estreia do jovem actor Henrique Marques da Silva na escrita.

A peça fala-nos do mistério da vida e do comportamento humano, usando como metáfora o arco-íris e as suas cores. Nele, as cores não se confrontam, não se invejam. Antes, complementam-se, para nos oferecerem algo que sabemos ser genuinamente Belo. Poderá o Homem seguir o exemplo das cores? Unindo esforços para criar uma sociedade mais justa, enfim, mais bela? Será possível conciliar Ciência e Religião, ultrapassando os entraves que Russell tão bem descreveu? Ou estaremos condenados ao confronto permanente? Seremos capazes de evitar sociedades futuras em que o homem possa afirmar as suas convicções sem ser mesquinhamente perseguido, como aconteceu com o Professor Marito?

Aliás, Professor Mário Augusto da Silva, que a peça tão generosamente e justamente homenageia. De facto, Ricardo Kalash merece o nosso vivo aplauso, pois é raro vermos, em Portugal, obras literárias baseadas na vida de homens que dedicaram a sua vida à Ciência. Diria mesmo raríssimo. Daí a grande originalidade desta pequena grande obra. Mas convém recordar que não foi só na Ciência que Mário Silva se distinguiu. Distinguiu-se por ter tido sempre a coragem de dizer NÃO, quando os outros, obrigados, diziam SIM. Por isso foi um dos expoentes máximos da resistência antifascista em Portugal. Não foi por acaso que Mário Silva encabeçou a lista dos docentes universitários afastados por Salazar em 1947. Facto que tem passado despercebido aos nossos historiadores.

Como homem de ciência, Mário Silva pagou bem caro, durante toda a sua vida, o facto de, no ínicio da sua carreira académica, ter escrito dois artigos, publicados em jornais de Coimbra, sobre o problema da "Génese da Vida". Cerejeira, Salazar e Ferrand de Almeida não falaram de outra coisa durante meses, marcando para sempre a vida do futuro cientista. No ínicio dos anos 20, quando a polémica estalou, ainda estes senhores não tinham qualquer poder político. Mas, mal se apoderaram do poder, após o golpe de 1926, logo começaram as perseguições vis e mesquinhas. Influenciando decisivamente o desenvolvimento científico português que, ainda hoje, coloca Portugal na cauda da Europa.

Assim, lamentamos que Mário Augusto da Silva não tenha na nossa História o destaque que mereceria. Aqui reside também a originalidade e o valor da obra de Kalash, pois lamentamos a continuada omissão e pior, a confusão imperdoável, com os seus carrascos. Exemplos? A omissão da sua vida e obra em grandes documentários sobre o Estado Novo, como foi exemplo o produzido pela SIC há alguns anos atrás (e não foi por ignorância!), ou a confusão do seu nome com o do seu homónimo brigadeiro Mário Silva, na extensa obra em três volumes, "Portugal Contemporâneo", dirigida por António Reis.

A obra de Ricardo Kalash foi apresentada no passado dia 26 de Março, Dia Mundial do Teatro, no Museu Nacional Machado de Castro, em Coimbra.

Os nossos parabéns e votos dos maiores sucessos

NOTA BIOGRÁFICA: Ricardo Kalash tem 38 anos e iniciou a sua carreira de actor no Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra (TEUC). Actualmente é actor, encenador, formador e dirige, desde a sua fundação, o grupo de teatro da Liga dos Amigos do Museu Nacional Machado de Castro (AMIC).

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