Razao

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27/02/08

Democracia e Portugal. Incompatibilidade?

Achei muito interessante o "post" "circuito fechado" de Rui Bebiano em "A Terceira Noite". Por causa de um comentário ao "post", escreveu Joana Lopes: "... E, exactamente por isso, isto pode acabar mal. Porque está a ficar escancarada a porta para que um qualquer populista seja bem-vindo, no sempre desejado papel de D. Sebastião. Oxalá esteja enganada – oxalá."

Acrescentei eu no "circuito fechado": "Se calhar, não estivesse Portugal integrado na UE, e, a esta hora, Lisboa e o resto da paisagem poderiam já ser feudo de um Oliveira qualquer. Estamos mesmo a pedi-las! E os homens de boa vontade não sabem o que fazer. Estão à toa! Eu estou! Eu, que acredito na social-democracia (ou socialismo democrático), como quiserem, que sempre estive próximo do único partido que a defendia em Portugal, o PS, nunca pensei sentir-me tão envergonhado pela política que os seus actuais responsáveis decidiram conduzir. Isto é, impingirem-nos, sob a capa do socialismo, o neo-liberalismo mais reprovável. E porque acho que nem mesmo o código de barras ficou, estranho que figuras como Manuel Alegre não se tenham revoltado ainda! Há qualquer coisa que não bate certo!"
Quero agora lembrar que a Revolução de 1926, o fim da 1ª República e o início do Estado Novo em Portugal, tiveram na sua origem a descrença total do povo português nas instituições democráticas da altura. Salazar foi muitas vezes apelidado de salvador da pátria! O que está a acontecer em Portugal (como por exemplo, tolerar a arrogância e a afronta de Maria de Lurdes Rodrigues aos professores portugueses que, diga-se, fazem muito melhor o seu trabalho do que os políticos - são os relatórios da OCDE que o permitem aferir -, tolerar que, de forma legal, milionários especuladores vendam propriedades de milhões sem pagar um tostão ao fisco, o preço exorbitante do pão, que é o alimento por excelência dos pobres (será que o Cartel das farinhas continua activo?), os impostos sufocantes sobre a classe média, as benesses e os benefícios fiscais escandalosos ao capital, principalmente à banca e aos seguros, o fecho de escolas, maternidades, urgências, etc.). Isto é tudo sinal que a cara não bate com a careta.
Há, no entanto, males que vêm por bem. É que assim percebo porque é que os filósofos-sábios Sócrates e Platão eram anti-democráticos. Eram contra a democracia porque naquele tempo a maior parte das decisões politicas em Atenas, muitas delas sem nexo, eram tomadas por maiorias populares, que não tinham nem formação nem cultura. Por isso, Platão, na sua República, defendia que a governação deveria estar a cargo dos homens mais sábios, descrevendo os caminhos a trilhar por aqueles que almejassem tal encargo. Hoje, de facto, constatamos que a democracia funciona bem nos países onde o nível de educação é mais elevado, como é o caso dos países do norte da Europa. Funcionando de forma medíocre em países onde o nível de educação é baixo, como seja o caso de Portugal. E porquê? Porque naqueles países, onde a população atingiu níveis elevados de educação, a probabilidade do governo ser entregue a pessoas incultas e incompetentes é pequena. O inverso é válido para Portugal. Assim, podemos concluir que, enquanto os níveis de educação e cultura não aumentarem em Portugal, e este aumento não se consegue através do encerramento de escolas, mesmo que estas tenham só um aluno, de Museus Nacionais de Ciência, etc., prova-se que de facto a democracia, hoje, não é o melhor sistema político para Portugal.

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