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12/03/08

PELO DIREITO À MEMÓRIA E PELO DEVER DE PRESERVAR UM MUSEU UNIVERSAL DE COIMBRA Petition

PELO DIREITO À MEMÓRIA E PELO DEVER DE PRESERVAR UM MUSEU UNIVERSAL DE COIMBRA Petition
Deparei-me com esta petição na internet. Desconhecendo a sua autoria e achando que o texto poderia ser melhorado, acabei por subscrevê-la, pois, no essencial, concordo com a iniciativa. O governo decidiu desmantelar o Museu Nacional da Ciência e da Técnica (MNCT), entregando o destino do seu valioso espólio nas mãos da Universidade de Coimbra. Não é a Universidade de Coimbra que aqui está em causa. Que fique bem claro. É o fim do Museu Nacional de Ciência que me incomoda. Que nos deve incomodar a todos. A Universidade ficará mais rica, com certeza, mas Coimbra e Portugal ficarão infinitamente mais pobres. Parece também que a Universidade se vai desfazer das peças de menor valor. É legítimo que questionemos os critérios que presidirão ao valor, ou falta dele, das milhares de peças do rico acervo deste Museu Nacional. É outra incógnita. É outra preocupação, dados os tristes exemplos que temos do passado. Parece também que o magnífico palacete Sacadura Bote vai servir de residência universitária, quando, justamente, ali deveria ser criada a Casa-Museu Mário Silva. Lamentamos igualmente que, infelizmente, o actual director do MNCT, desde 2002, acumulasse o cargo com o de director do novo Museu de Ciência da Universidade de Coimbra. Sendo também Professor da UC, a incompatibilidade deveria ter funcionado aqui, pois o MNCT saiu tremendamente prejudicado com essa incompatibilidade de funções. É óbvio que não defendeu a Instituição que dirigia. Por outro lado, o governo arranjou uma forma fácil de se livrar "do problema". Porque, infelizmente, para os sucessivos governos desde 1980, o Museu Nacional da Ciência e da Técnica sempre foi visto como um problema, com o qual nunca quiseram, nem souberam, lidar. Curiosamente, Mariano Gago surge na sua história dos últimos 30 anos associado ao melhor e ao pior momento. No tempo de Guterres criou o Instituto para a História da Ciência e da Técnica (IHCT/MNCT) e, aparentemente, a solução para o MNCT parecia estar encontrada. Criando junto do Museu um Instituto necessário e útil a Portugal. Lamentavelmente, veio Durão e arrasou com todos os Institutos. Bons e maus. Pena que, agora, o ministro não tenha mantido a opinião de então e venha dar o dito por não dito, acedendo aos desejos inconfessados da direita mais retrógrada e saudosista. Se tivesse sido criado em Lisboa, teria este Museu passado por tudo o que passou nos últimos trinta anos? Não creio.

Eu não concordo com o fim do MNCT. Por isso assinei a petição, a Bem da Cultura, a Bem de Portugal!

4 comentários:

LUIS FERNANDES disse...

COIMBRA: AFINAL, QUAL É A TUA CULTURA?
Entrei no autocarro. Num relance, como raio de luz projectado de um farol que varre o mar, os meus olhos percorreram todos os lugares sentados. Havia um, vago, ao lado de uma mulher. E foi mesmo ali que me “assolapei”. Depressa as minhas narinas absorveram o perfume de pinheiro silvestre que vinha da minha companheira ocasional de viagem. Era uma mulher de meia idade, bem vestida, elegante e de ar sóbrio. Lia o jornal da cidade, o “Diário de Coimbra”. Como conheço bem a paisagem, e nada me chamou a atenção, poisei os meus olhos numa notícia plasmada no jornal aberto ao meu lado: “Munícipe lançou apelo para não deixar morrer o MCT (Museu da Ciência e da Técnica)”. A seguir, em desenvolvimento, a notícia descrevia que “depois de o munícipe ter lançado o apelo ao executivo municipal , o Presidente da Câmara, Carlos Encarnação informou-o: venha falar comigo mais sossegadamente e ter uma conversa demorada”. Era a página que a mulher pacientemente lia.
Foi então, sem que nada o fizesse prever, que ela atira de supetão: “coitado do munícipe, se está à espera de ser chamado pelo Encarnação, bem pode esperar sentado. Você não acha?” Interroga-me a mulher, fixando os seus olhos negros nos meus castanhos. Antes de eu ter tempo de responder, já ela replicava: “Estes políticos são uns artistas a “chutar para canto”, é por essas e por outras que esta amaldiçoada cidade nunca sai da cepa torta”. Claro que o tema interessava-me de sobremaneira e, por isso mesmo, tinha de dizer alguma coisa para que ela continuasse. Então interroguei-a: porque diz isso? “Porquê? Você ainda me pergunta?! Coimbra é uma cidade esquisita, virada para as tricas intestinas. Veja, agora, o caso do Metro: há sempre alguém que descobre uma maneira de colocar uma pedra na engrenagem e assim evitar que as coisas corram normalmente. Verdadeiramente ninguém está interessado em fazer seja o que for enquanto há tempo para a cidade andar para a frente. É como se precisassem do eterno choradinho, do fado desgraçadinho. Sem esses lamentos melosos não conseguem viver. Precisam de, eternamente, andar a carpir mágoas pelas ruas e vielas. Concretamente, ninguém está interessado em salvar nada. Já foi assim com a demolição da Alta, nos finais da década de 1940, em que a única voz dissonante foi Bissaya Barreto. Depois, em finais dos anos 70, foi o desaparecimento dos velhos eléctricos ronceiros, mandados retirar pelo então edil Mendes Silva. A seguir, nos anos 90, foi retirado o tráfego automóvel e imposto o pedonal nas Ruas Ferreira Borges e Visconde da Luz. Tudo isto foi feito às claras, sem oposição, e até com a maioria dos Conimbricenses a aplaudirem. Hoje, parecem umas Madalenas, sempre a lembrar, a chorar e a lamentarem os erros do passado. Mais grave ainda: a pedirem a reposição do outrora destruído. Acredite, esta cidade está amaldiçoada pelos espíritos “vagueantes” de Camões, do Eça, do Camilo Pessanha, do Trindade Coelho e do mais recente Miguel Torga. São demasiadas almas de escritores célebres para uma cidade só. Pensa que alguém se importa que desapareça o MCT? Repare neste pormenor: foi postado na Internet uma petição contra a política cultural da autarquia de Coimbra, em que Carlos Encarnação era acusado de insensibilidade e autismo perante a cultura da cidade. Era um texto ideológico, onde o entendimento da cultura parecia metafísico. No entanto, mesmo assim, foi subscrito por 1150 pessoas. Hoje, também na Internet, está a correr uma petição on-line para que o MCT não seja desbaratado –PELO DIREITO À MEMÓRIA E PELO DEVER DE PRESERVAR UM MUSEU UNIVERSAL DE COIMBRA. Ora, em coerência, seria suposto que estes preocupados “amigos da cultura” subscrevessem esta petição. Pois sim! Até hoje foi subscrita por pouco mais de meia dúzia de pessoas. Não acha estranho?”. Confesso que realmente não entendo as preocupações desses “cultores”, respondi, para que a senhora se sentisse impelida a continuar.
Prossegue a dama, “como se deve lembrar, Carlos Encarnação acusou este milhar de pessoas de “amiguismo”. Agora veja a conclusão: em face dos seus comportamentos, ambos têm razão. O Presidente da Câmara, em face da aparente inevitabilidade de que o MCT vai ser desbaratado, “chuta para canto”, e pouco parecendo importar-se, acaba por dar razão ao grupo de cidadãos subscritores e “amigos da Cultura”. Por sua vez o grupo, ao não subscrever uma petição, num acto concreto de atentado à memória, ao passado e à cultura de Coimbra, vem dar, também, razão a Carlos Encarnação, de que, realmente, assinaram a tal petição apenas pelo “amiguismo”, pela “partidarite” de uma guerra política suja”.
A senhora desculpe, mas estou a chegar ao meu destino. Que pena não poder continuar a ouvi-la. Levantei-me, toquei o sinal de paragem e encaminhei-me para a porta de saída. Ainda ouvi a mulher perguntar, quase no meio de um grito: VOCÊ JÁ ASSINOU A PETIÇÃO? …OU É UM FALSO IGUAL AOS OUTROS?

LUIS FERNANDES
(COIMBRA)

(www.questoesnacionais.blogspot.com)

João do Lodeiro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
João do Lodeiro disse...

Muito obrigado pelo seu comentário. E parabéns pela sua lucidez. Não comunga da mediocridade que nos rodeia. Espero, sinceramente, que o povo de Coimbra adira a esta iniciativa. Há que tudo fazer para desmascarar esta afronta à cultura, a Coimbra e a Portugal. Não entendo como é possível que isto esteja a acontecer debaixo do nariz de todos e ninguém se indigna. Tirando eu, o meu caro amigo, um ou outro amigo e um ou outro Professor universitário, como os Professores Sá Furtado e Reis Torgal. A esmagadora maioria encolhe os ombros e assobia para o lado, demonstrando que só vivem para os seus umbigos. Queixam-se da iliteracia dos portugueses? O português inculto nada faz por inconsciência. Não é portanto responsável. Os outros ditos "cultos", que deviam dar o exemplo, omitem propositada e conscientemente. São portanto cúmplices do assassinato da cultura, que hipocritamente dizem defender! Eles, no fundo, não sabem o que fazem...

Vítor Ramalho disse...

Embora as assinaturas ainda sejam poucas não vamos desistir.
Obrigado pela ajuda.