Chamo para me ajudar a esclarecer e justificar este porquê, o Gavroche, o garoto revolucionário, que nas barricadas da Revolução Francesa ajudava, na luta pela liberdade do povo francês, a impor a toda a humanidade os mais belos princípios humanos: igualdade, liberdade e fraternidade. Foi um garoto revolucionário pelos melhores ideais. Este garoto, Gavroche, teve os maiores elogios do grande escritor francês Victor Hugo, que o imortalizou na sua obra “Os Miseráveis”, considerando-o uma pérola. No livro “Rã no Pântano” do Dr. António de Almeida Santos, de Vide, é maravilhosamente tratado. Escreveu:
“Meu Gavroche… Vá Gavroche, rouba uma estrela do Céu, quando o Sol fechar os olhos. Tu, rouba a mais bela”.
Por isso, as estrelas roubadas quando o Sol dormia e as pérolas agarradas ao coração dos garotos gavroches, sinto-me culpado dos roubos, desde a idade do Gavroche, eternizado pelo grande Delacroix, até hoje. À espera que a morte me diga, já basta, esperando que me diga também, leva a tua estrela e a tua pérola. Quantos garotos gavroches, que foram meus amigos e companheiros, levaram as suas estrelas e as suas pérolas? Gavroches revolucionários, nas barricadas da vida, revolucionários com os ideais presos às mãos, para as suas estrelas iluminarem a sua defesa pela liberatura, da poesia, da arte, na sua diversidade e dos melhores valores humanos.
Mas nem todos os garotos gavroches foram felizes. Milhares de garotos e raparigas, agruparam-se numa cruzada, conhecida pela Cruzada das Crianças, comandadas por dois garotos com as idades de 10 anos, um francês, Eugénio, e o outro alemão, o Estêvão, para libertarem a Terra Santa dos muçulmanos, em 1212. Transcrevo esta Cruzada da História da Igreja, do autor August Franzen: «Por que Deus exigia que só as virgens e crianças poderiam libertar a Terra Santa. E porque todas as cruzadas tinham sido derrotadas, apesar de cavaleiros sanguinários». E transcrevo o fim desta Cruzada, do mesmo livro da História da Igreja «O empreendimento em nome de Deus, terminou numa terrível tragédia. As raparigas foram vítimas de terríveis abusos no norte de Itália (apesar das bênçãos do papa, em Roma), em Marselha vendidos para escravos e em Alexandria, uma imagem arrepiante». E quantos inocentes gavroches, têm sido aproveitados em nome de Deus, de Cristo e de sua Mãe? Inocentes, só acompanhados pelas luzes das estrelas que lhes ofereceu o seu companheiro gavroche Jesus, têm sido aproveitados, mesmo pelos que se afirmam cristãos-católicos portugueses. E aproveitamento por todo o mundo, que resulta em milhões de crianças massacradas com guerras e mortes com fome. Satisfazem os seus interesses. Mas quando chegar o fim de tantos deles, sem as luzes das estrelas dos gavroches, um negrume eterno os espera. Eu, ainda aqui estou, com a minha estrela roubada. A pérola está com a minha mulher.
E só no patim da igreja de Vide.
Oh pai!... Não estás só... estás nos nossos corações e rodeado de todos os teus Gavroches!
2 comentários:
Grande texto confrade blogueiro. Essas suas memórias mereciam mais expansão. Se me compreende. Obrigado por este "naco" de enriquecimento.
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