Os momentos que vivemos nos dias de hoje não
são novos. Infelizmente, tudo é muito parecido ao que se viveu em meados do
Século XIX. Naquele tempo viveram-se tempos muito complicados decorrentes da
pós-revolução industrial. Os governos liberais da altura, baseados nas ideias
de Adam Smith, em tudo fazem lembrar os actuais neoliberais, agora alimentados
pelo dinheiro das grandes casas financeiras americanas e mundiais.
Infelizmente,
quando a humanidade encontra novas formas de riqueza, encontra também novas formas
de desigualdade social. A revolução industrial acentuou os males produzidos
pela desigualdade na distribuição das riquezas, levando à exploração das
classes operárias pelos industriais e capitalistas da altura. Esta desigualdade, deve
frisar-se muito bem, foi levada a um grau de desumanidade incrível. Eis um
excerto de Juan Zamora que o descreve muito bem:
“ Até 1800, aproximadamente, os salários
mantiveram-se altos, pois o número que homens aptos a utilizar e manusear as
máquinas era diminuto. Mas a partir dessa data, o proletariado industrial
começou a aumentar extraordinariamente produzindo-se a queda das diárias, e
como consequência indirecta da depressão dos salários, o emprego em grande
escala do trabalho de mulheres e de crianças. As jornadas eram de catorze e até
de dezasseis horas. Como a diária mal bastava para o mantimento de uma só
pessoa, todas aquelas de que se compunha uma família viam-se forçadas, se
queria subsistir, a empregar-se nas fábricas. Crianças de seis e sete anos
trabalhavam oito, dez e doze horas, e a sua fadiga era tanta que muitas vezes,
ao sair das oficinas, não tinham forças para regressar às suas casas e caiam
adormecidas sobre a erva aos lados do caminho. Nas proximidades das fábricas,
em habitações estreitas e insalubres, apinhava-se uma população famélica,
extenuada e andrajosa. Excesso de trabalho, pobre alimentação e trabalho
prematuro traziam como inevitável o raquitismo, a tuberculose e uma alta
percentagem de mortalidade infantil e juvenil. Perante este estado de coisas, a
atitude dos governos limitava-se a deixar fazer, a deixar passar. Nas esferas
políticas o liberalismo económico, forte mantenedor da não intervenção do
Estado, ainda continuava citando Adam Smith e proclamando que toda a ingerência
dos poderes públicos no sistema económico era um atentado aos mais sagrados
direitos da humanidade”.
in O Processo Histórico, 1945.
Troque-se a palavra máquinas pela palavra computadores e vejam-se, ou prevejam-se, os acontecimentos históricos. Absolutamente assustador.
Obviamente que todos sabemos as consequências
de tudo isto. A teoria Marxista sobre a interpretação económica da história,
que continua correcta, quer queiram quer não queiram, bebeu muito nestes
acontecimentos. Mais tarde as revoluções operárias, como aconteceu na União
Soviética, foram somente consequência de todo um mal-estar criado pelo
liberalismo económico do Século XIX. Se hoje lermos este texto, substituindo o
termo máquina por computador, podemos ver o que o futuro próximo se apresta para
nos trazer. A diferença daquele século para os nossos dias, pós-revolução
informática, só peca pela velocidade dos acontecimentos. Hoje tudo é mais
rápido. Muito mais rápido. Os fenómenos sociais foram acelerados, tal como os
computadores aceleraram a nossa capacidade de fazer contas. E o expoente é
elevado. Significo com isto que o empobrecimento mundial que se avizinha será
muito acelerado (isso vê-se já, claramente, no nosso país) e as revoluções que
necessariamente se seguirão, além de mais repentinas, serão necessariamente
mais brutais. Esperamos estar enganados, mas, infelizmente, o método científico
que permitiu dar-nos a tecnologia dos nossos dias, também permite deduzir o que
aí vem com base nos acontecimentos do passado (se Compte estiver correcto). Só não vê isto, quem não quer, ou não puder.
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