Razao

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17/05/09

Onde É que Eu Estava no 24 de Abril?

Bandeira portuguesa na varanda do Rádio Clube de Moçambique. Imagem retirada do Nonas, onde um testemunho deve ser lido (apesar de algumas afirmações com as quais podemos não concordar) para que os portugueses saibam um pouco mais sobre o que na realidade se passou na descolonização portuguesa. Será que os livros de história contemplam estes testemunhos, sobre o que se passou, por exemplo, no dia 7 de Setembro de 1974, em Lourenço Marques? Creio que não. Nestes dias, e nos dias que se seguiram, ocorreu o maior genocídio perpetrado sobre portugueses, em toda a sua História. Isto não pode ser esquecido e omitido da História de Portugal, como têm tentado fazer até aqui. Existem milhares de testemunhas vivas que deveriam ser ouvidas. Lamentável é que somente os portugueses que estiveram em Moçambique sabem disto. Praticamente toda a classe política portuguesa, especialmente a esquerda, salvo raras excepções, tem o rabo preso. Se calhar por isso, estes acontecimentos trágicos foram sempre muito bem escondidos do povo português. Eu próprio testemunho que conheço pessoalmente uma família que esteve fechada dias a fio no sotão de uma casa para fugirem "à matança" perpetrada sob os auspícios do exército português... o que viam na rua era de um horror atroz, em que crianças brancas eram decapitadas e as cabeças transformadas em bolas de futebol. Foi também por isso que os meus pais não regressaram a Moçambique depois das férias em Portugal no verão de 1974.


Resolvi publicar no Natureza o comentário (corrigido) que fiz no blogue Contra Capa, a propósito do dia 25 de Abril de 1974 . Achei importante, por me ter recordado de alguns factos que marcaram esse meu dia. Embora não dizendo ainda tudo, aqui fica parte do meu testemunho e da minha opinião sobre esse dia fantástico.

"Embora atrasado... Na noite de 24, lembro-me de ter vindo para a varanda da casa dos meus pais, que não tiravam os ouvidos do rádio, gritar viva a liberdade! Estava uma noite quente, como era hábito naquela região de savana. Lembro-me de ser puxado para dentro de casa pelo meu pai. Foi uma alegria contida enquanto as certezas não chegaram. Mal eles sabiam que a sua força, que a sua vontade de liberdade, que tantas vezes lhes foi roubada, lhes traria também o fim de trinta anos de trabalho árduo. Fim de uma vida, roubada por um estado sem vergonha, que os abandonou e tratou como "retornados". Apesar de tudo, retornados que ajudaram a fazer o Portugal de hoje, retirando-o da sua ruralidade analfabeta e miserável que o caracterizava. Mas as feridas não sararam e as mágoas jamais serão esquecidas. Afinal, Portugal nunca assumiu os seus erros e as suas responsabilidades. Antes, por não reconhecer a soberania das nações africanas colonizadas, depois por ter virado as costas aos PORTUGUESES que lá viviam, lavando as mãos como Pilatos. Morreu muita gente. Primeiro, portugueses brancos, a quem o exército virou, literalmente, as costas e os seus oficiais exploraram, depois os nativos negros apanhados em guerras civis fraticidas, pela fome. Morrer de fome? Coisa quase impossível de ter acontecido para quem conheceu Moçambique! Foi a pior descolonização da História da Humanidade. História que nao está a ser escrita com verdade... basta saber que até assassinos, aprendizes de enfermeiro, foram doutorados H.C. por universidades portuguesas...".

Edifíco do RCM na antiga e bela cidade de Lourenço Marques

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