Razao

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29/05/08

O Mestre da Cor

Pintura a óleo de Mário Silva de 1969, pertencente ao período dos barcos
Já aqui falámos do Professor Mário Augusto da Silva. Chegou a hora de homenagear o seu filho, o pintor Mário Silva. Provavelmente um dos maiores pintores e escultores portugueses contemporâneos. Um "outsider" a quem a crítica "instalada" nunca fez justiça. Bem pelo contrário. Tal pai, tal filho. Razão de sobra para aqui tentar fazer justiça. Como seu familiar sou com certeza suspeito. Mas não me importo. Porque a sua obra sempre me tocou, sempre me disse mais do que muitas outras. Por isso, moralmente, tenho o dever de dizer:

Obrigado Tio,

Bravo! Obrigado pela tua obra, que desde miúdo admiro e que sempre a alma me encheu. As cores fortes, os espaços monocromáticos, o traço marcante e único. Ninguém nunca pintou a sua cidade como tu o fizeste. Coimbra ficará imortalizada para sempre. Nenhuma cidade do mundo teve esse privilégio. Quem mais? O de ser pintada de todas as cores. Uma de cada vez. Pintas o Céu e o Mondego da cor das casas tristes que se encavalitam pela Couraça de Lisboa afora. Vejo os telhados de Coimbra pintados na cor do azul do mar cristalino. Onde traineiras da mesma cor labutam para dar de comer às mulheres de preto que esperam na praia. Na praia azul, onde o soldado desconhecido, no dia D, também luta para salvar a sua pele, e a do mundo, numa manhã de nevoeiro azul. E as catedrais castanhas, molhadas pela chuva castanha daquele dia castanho? E os pássaros, que aos magotes esvoaçam no céu vermelho? De quem fogem? E as almas, tantas, nós todos… para onde vamos?

2 comentários:

Anónimo disse...

entre outras recordo a "acção de protesto" - com a consequente queima de obras na Figueira da Foz - levada a efeito por Mário Silva, nos idos Oitenta, contra a política de saque(carga fiscal) promovida pelo estado em relação aos artistas. Um dia, descobri uma pintura mural, num pequeno café na Praia de Monte Clérigo, datada de inícios dos anos Setenta. Até ali, num local, que seria então um paraíso (ainda hoje é) uma pintura do Mário Silva. Durante um mês passei a ir lá todos os dias, e sentava-me a tomar café e a olhar e a pensar o que aconteceria aquela parede um dia...Nunca mais lá fui, por isso, a história verdadeira termina aqui.

João do Lodeiro disse...

É verdade sim senhor. Também me lembro muito bem desse episódio da queima dos quadros, no tempo do cavaquismo. E de ele ter entrado com dois ou três debaixo do braço na repartição de finanças, para com eles liquidar o imposto. Mas também seja dito que Mário Silva é a generosidade em pessoa... por isso pode-se encontrar uma pintura dele onde menos se espera. A última, que me surpreendeu, foi no gabinete do enfermeiro chefe do serviço de pneumologia dos HUC. Quando lá entrei deparei-me com um grande quadro de Mário Silva na parede. Segundo me disse o enfermeiro, foi oferecido ao serviço ainda no tempo do hospital velho.