Razao

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10/04/11

Uma Golpada chamada PEC4

Tudo é coincidência. Mas eu adoro coincidências. Fico com a sensação de que é sempre possível ganhar o euromilhões. Não haja dúvida que o momento de apresentação do PEC4 nada teve a ver com a aproximação do XVII Congresso do Partido Socialista. Nada mesmo. Não houve qualquer calculismo político. Não. O Primeiro Ministro foi a a Bruxelas apresentar o seu PEC4, duas semanitas antes do congresso socialista, sem passar cavaco a ninguém, porque sabia de antemão que toda a oposição e o Presidente da República estavam solidariamente com ele. Para quê dar a conhecer aos pequenos portugueses o seu 4º plano de austeridade? Afinal, era só mais um, e os portugueses já estão habituados. Aliás, o povo português adora quem o castiga. Foi assim com Salazar, com Cavaco e agora com Sócrates.

Obviamente que, ao assinarem em Bruxelas mais um conjunto de medidas de austeridade, para gáudio dos actuais dirigentes da direita Europeia, sem passar cavaco a ninguém, não havia por detrás desta atitude nenhuma "malévola" intenção relativamente aos partidos da oposição, em especial, ao PPD-PSD. Imagino que, hoje, ao ligar a sua TV, Passos Coelho perceba e tenha noção da queda que deu. Este PEC4 não foi mais do que uma casca de banana, milimetricamente colocada de forma a que a queda fosse certa e aparatosa. A forma como este PEC4 foi apresentado, primeiro lá fora e só depois cá dentro, só podia conduzir ao seu chumbo. Chumbo que o PS e Sócrates calcularam muito bem. Assim, o XVII congresso socialista seria já o tiro de partida para as legislativas que, com certeza, iriam ser marcadas no seguimento do chumbo do PEC4. Os estrategas do partido calcularam tudo muito bem:

1 - Vendo que a entrada do FMI e Companhia seria inevitável, devido à sua péssima governação, Sócrates embrulha as suas responsabilidades no PEC4 e oferece-as de bandeja ao Presidente da República e a Passos Coelho.

2 - Depois de terem dado sucessivas coberturas ao governo, o PPD-PSD não teria outro remédio senão chumbar o PEC4. Aparentemente, não tinha nenhuma alternativa. Ao serem desprezados da forma como o foram, Passos Coelho jamais poderia ter aceite este PEC4.

3 - Também a posição pós-eleitoral do Presidente da República, bastante arrogante, diga-se, não configurava nenhuma intenção da sua parte para arranjar os consensos necessários dentro do actual quadro parlamentar. Ele seria levado a dissolver imediatamente a Assembleia e a marcar eleições legislativas.

4 - Este foi o cenário que os dirigentes socialistas previram. Passos Coelho e o Presidente da República cairiam que nem uns patinhos. Tivessem sido bem assessorados e jamais o PEC4 teria sido chumbado. A partir do momento que Passos e o Presidente engolem o isco, o PS e Sócrates respiraram de alívio. Poderiam agora transferir o ónus da sua má governação para cima da oposição e, melhor, para cima do líder inexperiente do partido seu rival. O PPD-PSD.

5 - Na semana seguinte, o XVII congresso socialista seria assim o tiro de partida para as próximas eleições legislativas, mostrando todo o unanimismo do partido em torno do líder incontestado. Os poucos contestatários, como Ana Gomes, foram atirados para as calendas do Congresso. O discurso de Alegre centrou-se na atribuição de culpas de tudo à Banca e aos mercados, e o de Gama, apesar da referência aos insubstituíveis, acabaram por ser elogiosos para o líder. Sócrates, triunfante, passeou a sua arrogância e a sua soberba.

6 - Perante tal triunfalismo e tamanha propaganda, as sondagens da semana que vem mostrarão os resultados da golpada socialista chamada PEC4. Cá estaremos para contabilizar o efeito da golpada chamada PEC4.

Sem dúvida que este PEC4 foi uma tremenda jogada política. Afinal em que situação ficaria Sócrates e o PS senão criassem toda esta situação em torno do PEC4? Com certeza que ninguém lhes perdoaria a derrota, que um pedido de ajuda urgente ao FMI e à UE acarretaria. O PEC4 não foi mais do que a tábua de salvação política do PS e dos seus dirigentes. Salvaram-se de tal forma, que uma possível reeleição não é sequer de excluir. Fantástico! Mataram vários coelhos com a mesma cajadada. Foi efectivamente uma grande golpada política.

O desnorte que todos demonstraram é bem elucidativo. O XVII congresso do PS deste fim de semana entra-nos pelos olhos adentro. A oposição não se ouve. O Presidente no seu inglês trémulo balbucia que a UE terá que ter imaginação no empréstimo de milhões que fará a Portugal. Inacreditável. Nós é que pedimos e quem empresta é que deve ter imaginação na forma como nos vai emprestar! Mas o povo que não se preocupe com isso, que Sócrates e o PS aí estão para conduzir as negociações. Quem mais?

Eu, pessoalmente, acho tudo isto insuportável. Por isso apelo, uma vez mais, ao voto. O voto, na minha opinião, deverá ser à esquerda do PS. Mas, essencial, é que se faça a regeneração da classe política portuguesa. Basta de mentiras e parvos nós não somos!

1 comentário:

isabel disse...

E "Mai nada"! Está muito bem dito.