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17/11/08

PARANÓIA

O braço de ferro que opõe o governo aos professores começa a ter contornos que roçam o absurdo. Entre professores e ministério há um diálogo de surdos que ninguém compreende. Há um desentendimento que é irreversível. Passou-se para lá do admissível. Para citar o Lopes da Silva, salvo o erro, agora só mesmo se houver "porrada". Perante todos os tristes acontecimentos que temos assistido, começamos a desconfiar que a cruzada levada a cabo contra os professores tem razões que a própria razão desconhece. Mas tememos que a razão que esteja por detrás de todo este imbróglio seja até compreensível do ponto de vista da Psicologia. É paranóia. E mais do que atribuir culpas à actual ministra, que sempre teve carta branca e cobertura para tudo o que fez e tem feito, é perceber o papel do principal responsável por isso, ou seja, o do próprio primeiro-ministro. Todas as suas intervenções neste processo, defendendo sistematicamente a ministra, dando-lhe toda a cobertura nos ataques continuados que levou a cabo contra toda a classe dos professores, que pelas suas responsabilidades públicas teria antes o dever de respeitar e proteger, demonstram bem que, no fundo, a actual ministra da educação tem sido a ponta de uma lança que o próprio primeiro-ministro tem usado para vingar possíveis traumas dos seus tempos de escola. Até que ponto toda a polémica gerada em torno dos seus diplomas académicos, não fosse já o pronuncio da actual cruzada? Quantos professores o terão marcado tão negativamente, para que, hoje, todos tenham que pagar por isso? Pior. Para que o país tenha que pagar por isso?

Os professores foram já suficientemente humilhados por este governo. Os professores, perante a soberba, a arrogância, a prepotência e o autoritarismo fascista demonstrado pelos actuais governantes portugueses, nem sequer deveriam admitir qualquer outro cenário para conversações com o Ministério da Educação que não inclua, à cabeça, a demissão de toda a equipa ministerial. Se antes exigiam somente a suspensão do actual vergonhoso modelo de avaliação de desempenho, que todos contestam, imposto pelo ministério à revelia de toda e qualquer opinião, agora, perante a teimosia e a estupidez, tornou-se irreversível a demissão da ministra e da sua equipa. Não há outro caminho. Esta foi também a opinião, inteligentemente expressa, de uma doméstica portuguesa no programa de ontem de manhã na TSF. Nenhuma reforma pode vingar quando é feita, deliberada e ostensivamente, contra as pessoas que nela têm que representar o papel principal, como é o caso dos professores e da actual reforma do ensino. Se ninguém duvida que era urgente uma reforma no ensino, começando pelos próprios professores, ninguém contesta que o seu objectivo principal deveria ser a melhoria e a qualidade do sistema de ensino público português. Mas não é nada disso. A actual reforma, que começou com uma campanha de intoxicação da opinião pública, ao melhor estilo de propaganda nazi, que de forma imperdoável pôs em causa a dignidade de toda uma classe profissional, mais não visa do que fins economicistas e estatísticas bonitas para inglês ver.
Não são só os professores que contestam esta reforma, pois a esmagadora maioria do povo português apoia os professores. Não admira, pois é a classe profissional em quem o povo mais acredita. O governo e o PS estão isolados nesta matéria. Mas somente a cúpula do PS, porque as bases não se revêem nesta política neoliberal de cariz fascista. Eu não me revejo. Repudio-a e sinto-me traído. Mas, sem vergonha, ainda se acham defensores da democracia? Qual democracia? É que o líder parlamentar do PS, armado em paladino da democracia, veio a terreiro criticar, veementemente, as palavras da líder do PSD que, após o jantar-debate de ontem, falando da prepotência de quem governa sobre a imposição de reformas a classes profissionais que são previamente hostilizadas, disse que isso (essa hostilização e imposição do quero posso e mando) só seria possível se a democracia fosse interrompida por um determinado prazo. É certo que das suas palavras ressalta um brilhozinho de anuência, que criticamos. Mas no essencial, MFL, fez-nos lembrar Platão. O que não compreendemos, de todo, é a reacção hipócrita do paladino socialista. Mas afinal que outra coisa tem feito o governo que o dito apoia, senão hostilizar classes profissionais e impor reformas que vão contra as pessoas? Isto é governar, ostensivamente, de forma anti-democrática e não vemos o paladino dizer uma única palavra sobre o assunto. Mais valia meter o rabinho entre as pernas e calar-se bem caladinho. Esqueceu-se dos seus tempos de estudante em Coimbra? Por duas vezes num ano a quase totalidade dos professores portugueses, vindos de todo o país, juntaram-se nas ruas da capital para mostrarem a sua indignação (mais do que justificada). Das duas vezes, a quase totalidade dos professores, mais de 100.000 professores que marcharam sobre Lisboa e todos os outros que não puderam ir, não teriam o direito, em qualquer país dito democrático, de serem ouvidos? Qual democracia, qual carapuça! Paranóia!

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