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15/07/08

Curiosidades sobre o Nosso Património...

Antiga offset Roland 800 após recuperação. Até na Líbia parece que dão mais valor a estas coisas do que nós em Portugal...
Encontrei por acaso o seguinte texto, que se resume, da autoria de José Ruy. Dadas as vicissitudes e os dias negros por que passa o Museu Nacional da Ciência e da Técnica e, consequentemente, a cultura portuguesa, é muito bom que estes testemunhos aqui fiquem de forma a evitar-se que o nosso vasto e rico património cultural, abandonado e menosprezado, se perca. Não são atoardas. Infelizmente, falamos com conhecimento de causa. E são vários os exemplos que poderíamos dar...
Esta história é sobre uma máquina offset da marca “Roland”, utilizada na impressão de uma curiosíssima antiga publicação portuguesa de BD, «O Mosquito». Continua o Mistério em que o Museu (NACIONAL) da Ciência e da Técnica, em Coimbra, Mantém a Máquina de «O Mosquito» (4)
Por José Ruy
… Na verdade, o modo como a equipa do jornal foi criada pelo Tiotónio e da maneira como funcionava, podemos fazer essa analogia pois, conseguir pôr na rua duas vezes por semana esse conjunto de histórias, era tarefa difícil. De resto a equipa não era grande, mas a sua coesão e capacidade profissional faziam dela uma verdadeira «máquina». O Mosquito que, como todos sabem, foi forçado pelo público leitor a adquirir uma impressora própria para dar resposta ao constante aumento da tiragem, preenchia no seu tempo, tempo de guerra, embora longe do nosso País, o vazio criado pela incerteza e a necessidade de «sonhar». Esse sonho era mantido pelas descrições de viagens no mundo ainda desconhecido, pelos actos heróicos de personagens de ficção inspiradas na realidade desejada, no salto constante para um futuro que ansiávamos fosse de paz. «O Mosquito» mantinha na juventude de todas a idades a chama viva da esperança. E só quem passou por esses tempos conturbados dá valor ao significado de coisas aparentemente tão simples, mas que eram na altura as mais importantes para as crianças que fomos.Ao longo da minha vivência tenho assistido a testemunhos de pessoas que conseguiram guindar-se na vida e que mantiveram viva essa recordação de «O Mosquito» e o que representava. Dou como exemplo o Telmo Protásio que me contava, como em miúdo, pertencendo a uma família com poucos recursos, conseguia, com grandes malabarismos, poupar cinco tostões para comprar o «seu» jornal. Era, dizia ele, a única coisa que conseguia ter como propriedade sua, já que os calções ou os sapatos haviam sido já do irmão mais velho. No seu canto ficava a deliciar-se com as aventuras espectaculares, isolando-se do resto do grupo que pedinchava de longe a partilha desses sonhos.
… Por isso o nosso sonho mantém-se, o de ver exposta na Amadora a «Rolland» Nº de série 7116. Na exposição que esteve patente nas instalações do CNBDI, de 29 de Outubro de 2006 a 1 de Junho de 2007, com o título «O Mosquito», Uma Máquina de Histórias, esteve uma reprodução quase em tamanho natural, dessa «Rolland» Offset. O espaço destinado a estar ocupado pela peça verdadeira, ficou vazio. Foi pena que o Senhor Professor Doutor Paulo Gama Mota não tivesse aceite o convite enviado pela organização do evento para visitar a exposição, pois se tivesse estado presente sentiria o que por sua culpa não foi possível realizar. Mas a esperança não morre. Pode ser que em breve o Senhor Director do Museu da Ciência e da Técnica tenha um rebate de consciência, um sonho fora de horas e acorde de manhã decidido a escrever-nos para franquear as portas do armazém do Carquejo.
A propósito de sonhos, vou transcrever o que publiquei no catálogo dessa exposição:
«Sonhei com um pesadelo. Conseguira entrar, talvez por artes de magia, no «Armazém do Carquejo» e secretamente abeirar-me da pobre «Rolland», desmantelada, vítima de brutal violação. Pelo corpo dos seus rolamentos e cilindros, grassavam chagas de ferrugem. Ao reconhecer-me sussurrou numa voz fraca, nada parecida com a que entoava a melodiosa canção, no multiplicar dos seus filhotes, os jornais, as revistas, os cartazes e bilhetes para touradas, as gravuras artísticas, os desenhos e as histórias, agora num lamento doloroso. Queixou-se-me dos maus-tratos sofridos, do impedimento de estar, como merecia, conservada e exposta num Museu. Acusou o responsável que a havia recebido para ser colocada no Museu da Ciência e da Técnica, como peça única que é, de em vez disso, a ter violentado abandonando-a num bafiento armazém, a morrer aos poucos, a encoberto dos olhos dos seus admiradores. Disse mais, a máquina, que o seu sequestrador tentava impedir a todo o custo que vissem o estado a que a deixara chegar, para assim encobrir a sua responsabilidade na acção de lesa memória colectiva, de lesa espólio cultural e de lesa património nacional. Despertei sedento de justiça, e acompanhado por todos os que comigo partilham este pesadelo, unidos numa corrente de solidariedade, desenvolveremos uma cruzada, mesmo que utópica».

Esperemos sinceramente que não. Para começar há uma petição para assinar

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