Alfredo Fernandes Martins – Professor de Geografia da Universidade de Coimbra
A cidade da Figueira da Foz vista da Serra da Boa Viagem
Numa viagem de estudo à Serra da Boa Viagem, o meu Mestre, Professor Alfredo Fernandes Martins, num local próximo da meia encosta desta serra, escavou e retirou do solo, fósseis conchíferos marítimos e disse convicto: “Aqui já esteve o Atlântico!”.
Em termos comparativos das alternâncias climáticas e períodos interglaciares, com culpas para o homem, justificadas na actualidade, são as mesmas culpas, para as anteriores eras glaciares alternadas com períodos interglaciares, com o mesmo aquecimento global?
Neste esclarecimento de culpas, transcrevo J.M. Roberts no seu livro “História Ilustrada do Mundo”; “Os períodos interglaciares eram bastante semelhantes ao actual período, com a principal consequência o aquecimento global da Terra”. E, acrescenta: “Todo o avanço como o retrocesso dos gelos foram catastróficos para o ambiente”.
Neste ciclo do retrocesso dos gelos, no actual período interglaciar, ninguém poderá impedir a subida e o avanço do Atlântico, para cumprir as suas funções cíclicas que lhe foram atribuídas. Engolirá as montanhas de dunas e arribas. Os esporões e as barreiras ou paredões de pedregulhos, serão engolidos como rebuçados. Na revista Única, Luísa Schmidt, que acompanha com interesse esta subida escreve: “De Moledo à Ria Formosa as praias recuam, as arribas esboroam-se. Por mais obras que se façam”. Naturalmente que esta situação trágica no litoral atlântico, obriga a defesas, mesmo sendo ineficazes, somente para minorar as angústias das populações que aí vivem.
No contexto nacional, o Programa Finisterra, o Plano de Ordenamento da Orla Costeira, com maior relevância. Recentemente, uma agência única, composta por uma centena de personalidades, para divertimento do Atlântico…
No âmbito internacional, destacam-se, o Projecto Internacional da Geosfera e Biosfera (IGBP), o Fundo Mundial para a Natureza (WWF) e o Protocolo de Quioto. Recentemente, o espectáculo-ambiente, tipo americano, de Al Gore. Os projectos dos governantes ambientalistas dos países poluidores e os projectos de elevada relevância dos países da EU, mais para redução das emissões do dióxido de carbono, alinham-se para a luta, nesta revolução ambiental.
O que está em causa, não são barreiras contra os ciclos das alternâncias climáticas e suas consequências, com o seu aquecimento global, mas sim uma revolução ambiental. Revolução para a conquista de uma vivência adaptada a estas mudanças, irreversíveis. Adaptação a novas normas ou conceitos, intrínsecos a essa nova vivência impostas por leis naturais. Caso contrário, a vida planetária, desaparecerá. Esta revolução em termos de adaptação a estas consequências climáticas, tem um poderoso aliado, alertado pelo astrofísico Martin Rees (entrevista, no jornal “Público”, em 2003): “Há 50% de hipóteses de um retrocesso civilizacional catastrófico neste século XXI”. Isto é, sem adaptação, a humanidade não sobreviverá a essas consequências, que vão prolongar-se por milhares de anos.
Neste contexto, condicionado às diferenças geo-climáticas, o degelo dos glaciares no continente asiático, ameaça milhões de pessoas. O aquecimento global, no seu ciclo irreversível, está a derreter os glaciares árcticos e tropicais. As correntes ou frentes frias libertadas pelo degelo árctico, descem para as baixas latitudes, provocando trágicas tempestades e chuvas diluvianas. Resultante do impacto das baixas pressões destas latitudes. Este nosso reduto costeiro atlântico, não escapa a estes impactos climáticos. É certo que não está sujeito às catástrofes directas como nos países sujeitos ao degelo das camadas espessas de gelo, mas sim, com maiores impactos, à subida do Atlântico e aquecimento global. Sendo assim, torna-se necessário e urgente que seja dada a conhecer a realidade dos ciclos da subida do Atlântico. É que na realidade ninguém poderá impedir o desaparecimento da nossa actual orla costeira. Esta é que é a verdade que deve ser interiorizada, planeando-se o futuro de forma a minorar as consequências desse efeito. E isto, que parece tão evidente, tem sido, lamentavelmente, descurado pelas autoridades portuguesas, muito por ignorância da sua classe política, continuando-se a gastar rios de dinheiro em planeamento e obras que serão, num futuro mais ou menos próximo, engolidas pelo mar.
Consequência positiva deste fenómeno, o facto da rede fluvial voltar a ser beneficiada. Nos últimos séculos da Idade Média, existiam 35 portos fluviais, a nível nacional. No distrito de Coimbra, 4 portos, Coimbra, Montemor-o-Velho, Verride e Soure. Com o recuo da orla costeira, o que vai acontecer? Obviamente que obrigará a um realinhamento costeiro, com cotas num espaço – no interior - conducente com a previsão do fim do avanço do Atlântico. Estudos divulgados sobre a subida deste oceano confirmam que o seu nível se elevou a cerca de 120 metros, nos últimos quatro mil anos. Neste mesmo sentido, o seu nível elevar-se-á mais de 6 metros até 2100. Na Serra da Boa Viagem, e na referida aula do Professor Fernandes Martins, os fósseis conchíferos marítimos, foram localizados acima dos 50 metros do nível actual do Atlântico.
Afinal estas alternâncias climáticas e suas consequências, com o seu aquecimento global, são culpas humanas? Uma pergunta, portanto: Se ninguém pode impedir os movimentos de rotação e translação, bem como o movimento de precessão do eixo terrestre, comandados ciclicamente por funções intrínsecas ao planeta terra e aos astros que o rodeiam, como é possível impedir as alternâncias climáticas, sendo que estas, segundo os cientistas referidos, são consequência daqueles?
Estudo efectuado pela Unviversidade de Delaware, nos Estados Unidos, sobre a subida do nível do oceano. A vermelho, na imagem da esquerda, a terra que provavelmente será perdida até ao fim deste século. Veja-se a consequência do aumento até 15 m, imagem da direita, devido ao degelo combinado da parte oeste da Antártida e da Gronelândia, que significaria submergir cidades inteiras da orla costeira.
A sobrevivência, naturalmente dramática, das populações que vivem na actual orla costeira, só se conseguirá, com o seu recuo. Não um recuo com a fuga ao Atlântico, mas sim, para proporcionar um novo espaço de vivência, com aproveitamento para adquirir melhores valores, em todos os seus aspectos. Especificamente, harmonizar o seu ambiente, com a paisagem humanizada. No entanto, esta nova perspectiva de vivência, só é possível, com a inovação e dinâmica de novos quadros humanos, especializados e nunca politizados, desde os geógrafos a arquitectos paisagistas e ambientalistas, motivados para os ciclos de mudanças climáticas. E, consequentemente, às mutações, desaparecimento e novas, na diversidade de espécies, na flora, fauna e noutras manifestações de vidas. Outros ecossistemas e nichos ecológicos devem ser protegidos. Já agora, já nesta revolução ambiental, algumas fugas que traíram o ambiente. Dois casos, os mais expressivos, entre outros. O primeiro. Recordo o Professor Mário Silva. Este ilustre cientista criou no Museu Nacional da Ciência e da Técnica, que fundou, a secção de Ecologia e Ambiente, em 1975, tendo aberto uma exposição permanente sobre esta temática no antigo edifício da Legião Portuguesa, à Rua Fernandes Tomás, em Coimbra. Esta sua iniciativa já se fundamentava na previsão das consequências das alternâncias climáticas. Daí, promoveu, nesta secção, aulas de elevada motivação ambiental, que mereceram dos interessados, principalmente, alunos liceais e universitários. Teve apoios de empresas industriais e da Philips, com a oferta de um aparelho para detectar a poluição atmosférica. Infelizmente, a sua morte provocou outras duas. A do seu Museu, abandonado por todos, com o seu ideal científico herdado da cientista Madame Curie, e o seu ideal Ambientalista, hoje, tão aclamado. O segundo caso. O “Jornal de Notícias”, de 4 de Maio de 1980, publicou um artigo sobre uma distinta investigadora, licenciada em Física, eng.ª Ermelinda Duarte de Oliveira. No Polytechnic of Central, em Londres, apresentou a sua tese sobre o perigo dos resíduos nucleares, que estavam a ser lançados, em bidões, no Atlântico Norte. Na altura, alertou o Governo português, para o perigo deste lixo nuclear, já a 500 km da costa portuguesa. A resposta do Governo, citando o referido jornal: “Que (Eng.ª Ermelinda Duarte de Oliveira), se limitasse a tomar conta da casa, das crianças, ser mãe e esposa”.
Estas mortes não convenceram. Mas acreditam que as muralhas, mais com cimento político, podem travar o avanço e subida do Atlântico. Serão engolidas, como as outras barreiras, atrás referidas.
CN - Geógrafo
10 comentários:
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