No meu "post" Notas Presas e Combustíveis!, critiquei António Vitorino e seu programa Notas Soltas, pois na altura achei terem ali sido defendidas, acerca da crise dos combustíveis, ideias erradas. O tempo, aliás, deu-me razão. Hoje, pelo contrário, venho dar-lhe os parabéns pela clarividência política dos seus pontos de vista e pela sua notável eloquência. Infelizmente, há muito arredada do discurso político em Portugal. A entrevista foi conduzida por José Alberto Carvalho, em substituição de Judite de Sousa que tinha entrevistado, momentos antes, Vítor Constâncio, Presidente do Banco de Portugal (BP). A sua primeira intervenção foi, como não podia ter deixado de ser, sobre a dita entrevista. Nesta, como Vitorino bem comentou, Vítor Constâncio clarificou toda a polémica em torno da supervisão do Banco Português de Negócios (BPN) - e que negócios! -, defendendo de forma magistral o papel do Banco de Portugal neste processo, perante a porta-voz, Judite de Sousa, de uma corrente de opinião política que bem conhecemos. É certo que Vitorino está politicamente próximo de Constâncio. Mas a diferença entre o comentador e a jornalista resume-se a uma palavra: bom-senso. Perante a teimosia insistente da jornalista em querer, à viva força, encontrar responsabilidades do BP neste processo, parecendo até que foram o BP e o seu Presidente os principais responsáveis pelo que se passou no BPN, Vítor Constâncio explicou, claramente, que, perante a fraude e a ocultação da mesma, não foi possível ao BP ter descoberto a marosca e a trafulhice, levada a cabo pela chefia do banco, em tempo útil. Aos meus olhos, como aos de Vitorino, como aos de qualquer pessoa inteligente e de boa-fé, as explicações do presidente do BP foram claras como a água. Curiosamente, ou não, toda a chefia do BPN é próxima do partido da referida jornalista. Por isso a tentativa de desviar as atenções do essencial, a fraude, a burla cometida por ex-governantes do PSD, todos eles pertencentes à administração do banco dos "negócios", do supérfluo, a responsabilidade do BP e do seu presidente na possível falha de supervisão das negociatas daqueles "magnatas". Lamentável. Isto, obviamente, Vitorino não pôde dizer. Mas sublinhou, claro está, que estamos na presença de um caso de polícia que deve ser investigado até às últimas consequências pela Procuradoria Geral da Republica que, segundo Vitorino, tem os meios, necessários e suficientes, para averiguar as ditas "negociatas". No entanto, defendendo a posição tomada pelo Presidente da Republica, acerca do conselheiro de estado ligado ao BPN (e por ele indigitado), lá foi dizendo que, perante as declarações de Dias Loureiro, em entrevista dada à mesma jornalista, onde esta, refira-se, teve um comportamento oposto ao de hoje, e o contraditório que se gerou com António Marta, administrador do BP, se abriu um caso político que a Assembleia da Republica deve investigar até ao fim. Soberbo! Aguardam-se, por isso, os próximos episódios.
Frases retidas (ideia): a forma criativa, imaginativa, inovadora até, que os portugueses, de forma única, são capazes de pôr ao serviço do boato.
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