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18/03/08

A QUEM DE DIREITO... A Razão de Ser do Estado da Cultura em Portugal (VII)

Acabo de receber por email a cópia de uma carta que a minha mãe enviou para publicação no jornal Diário de Coimbra. Deixo à vossa consideração:

"Senhor Director:

Ainda e Sempre o
Museu Nacional da Ciência e da Técnica

Ao Senhor Luís Fernandes,

Como filha mais velha do Professor Mário Augusto da Silva e que, ao longo destes anos – 30 anos precisamente – tenho vindo a público no Diário de Coimbra lutar, clamar em prol das obras do meu pai, não podia agora ficar calada. Quero primeiro agradecer-lhe o ter tomado posição tão empenhadamente a favor do Museu Nacional da Ciência e da Técnica (MNCT). Também dizer-lhe que foi a primeira vez que um conimbricense, como diz “um cidadão anónimo”, vem à luta pelo Museu. Muito, muito obrigada. A maioria dos nossos conterrâneos esteve, e está, sempre de costas viradas para o Museu. As sua vidinhas são mais importantes que um Museu de Ciência. Como estavam e estão enganados! Embora com muito mais população, Coimbra está em agonia. Era a terceira cidade! E hoje?

As chamadas forças vivas da cidade, ou é melhor chamar-lhes «forças mortas», tudo têm feito para levar ao desaparecimento o MNCT, não o vendo como o que Mário Silva queria fazer, um Museu Nacional da Ciência e da Técnica de Portugal. Um museu vivo e dinâmico, com pólos em todas as cidades, desde os moinhos, azenhas, lagares de azeite… até às últimas conquistas da ciência. Englobando todos os museus já existentes como pólos independentes mas integrados num grande museu, para proporcionar a quem o visitasse uma visão de todo o passado e as conquistas do futuro. Principalmente as referentes ao engenho português. Veja como Coimbra se poderia efectivamente tornar num pólo de excelência da cultura portuguesa, em vez de termos somente aquela publicidade enganosa na A1.

Fiquei muito magoada quando o próprio ministro Mariano Gago lhe deu o golpe final, quando tinha sido sua Excelência, em 1999, a salvá-lo, criando junto ao MNCT o Instituto da História da Ciência e da Técnica. Como bem referiu na altura, era uma lacuna no nosso ensino superior.

Realmente para quê impor à cidade, às suas forças vivas e à sua população este museu?

O Senhor Presidente da Câmara, o seu pelouro da cultura e os ditos “amigos da cultura” não estão nada interessados. O Senhor Reitor da Universidade achou por bem fazer antes mais um museuzinho de ciência… para juntar aos outros todos que lá tem. Ao menos se já existia com Estatutos legalizados um Museu Nacional da Ciência e da Técnica na cidade, porque não a Universidade reivindicar a sua integração. Penso que os Senhores Professores tiveram medo de tamanha responsabilidade. Repare. A Mário Silva foi-lhe dada a direcção de um Museu assim. Direcção que assumiu com Mestria. Em princípio ficaria em Lisboa, mas amando a sua cidade conseguiu que Coimbra fosse a sua sede. E porque não Coimbra, que já tinha sido a sede da primeira universidade portuguesa. Coimbra mereceu?...

Mas morreu Mário Silva. Sucede-lhe um Professor Catedrático no activo. Veja o resultado. Um descalabro completo. E lá vão vinte anos. Vem novo Professor, só que desta vez alguém que se dedica completamente e trabalha com afinco durante somente cerca de dois anos – Professor Paulo Renato Trincão, com o ministro Mariano Gago. Foi o canto do cisne do museu. Muda novamente o governo. As forças vivas que tinham sido travadas, têm agora via livre novamente. O Museu Nacional tem agora os dias contados. E o novo Senhor Ministro ainda tem a ousadia de lhe por o nome Dr. Mário Silva!!! Como estava certa quando publicamente, aqui mesmo, repudiei esta “honra”. Porque além de diminuir ambos era a maneira de ser mais fácil fechá-lo. Colocam lá outro Professor no activo. A sua direcção é a ruína completa do museu. Aliás tinha à sua espera o novo museuzinho… para quê gastar energias e responsabilidade na direcção do Museu Nacional da Ciência da Técnica, não de Lisboa, do Porto, de Coimbra, e de, e de, e de… mas o Museu Nacional da Ciência e da Técnica de Portugal.

No seu segundo artigo fala do Dr. Mário Nunes. Vou dizer-lhe pois talvez não se recorde. O Dr. Mário Nunes em 15 de Maio de 1988 no Jornal Domingo, publicou um extenso artigo “Museu Nacional da Ciência e da Técnica muda ou não de local?!” O artigo é encimado pelas fotos das duas casas principais. A da rua Fernandes Tomás (que o director à data Professor Alte da Veiga alienou). A da rua dos Coutinhos, o palácio Sacadura Bote, comprado mais tarde pelo Estado no tempo do Professor Renato Trincão. Em boa hora! Porque estava para ser vendido a um sr. professor… Trás ainda uma outra foto da casa da rua da ilha onde mostra a tecnologia da cerâmica. Nela havia, entre outras coisas, uma sala de armas, composta por uma grande colecção. Engraçado. Senão repare: no Inverno do ano seguinte, 1989, o telhado deste edifício, velho, rompeu e deixou entrar água. Isto num prédio de dois ou três andares. O museu ficava no rés-do-chão. O Sr. director mandou retirar todas as peças (onde estão?) e muito solicitamente comprou o imóvel para si mesmo!!! Mas voltemos ao que interessa. O Dr. Mário Nunes termina-o assim: “que o Museu da Ciência e da Técnica continue a ser nacional e sediado em Coimbra, são os votos que formulamos e a melhor forma de estarmos na e com a urbe mondeguina”.

Que me diz o senhor? Não é para rir? O Sr. Dr. Mário Nunes tem hoje o pelouro da cultura da Câmara Municipal de Coimbra.

Coimbra, 18 de Março de 2008

Maria Isabel da Silva Nobre"
Visita do Prof. Veiga Simão ao Museu Nacional da Ciência e da Técnica aquando da sua inauguração em 1971. Foto tirada num dos salões dedicados ao génio de Leonardo da Vinci.
Recordo que acerca deste assunto publiquei vários "posts" onde chamo à atenção para a petição que está on-line aqui:

http://www.petitiononline.com/muscoimb/petition.html

2 comentários:

LUIS FERNANDES disse...

Os meus cumprimentos D. Isabel Nobre. Começo por lhe agradecer este seu generoso encómio, mas, em verdade, estou a fazer apenas o que devo, e, quando se faz o que se deve, não se pode esperar agradecimentos.
Devo informá-la que sou um pouco teimoso e, como tal, na próxima Assembleia Municipal lá estarei, como Santo António, a pregar aos peixes.
Quanto a esta sua carta que pena o "Diário de Coimbra" não a ter publicado, mas não se admire, também a mim só publicam uma ou outra. Ultimamente, até tenho deixado de enviar textos. Como é normal, chateia-me escrever "para o boneco". Mas, também aí é a imprensa que temos...e ponto final.
Quanto ao que refere no seu texto, acerca de Mário Nunes e da "negociata" de Alte da Veiga, lembro-me perfeitamente. E lembro-me exactamente porque, nessa altura, correu na Alta que o "casarão" estava à venda e eu fui falar com a proprietária, ali para os lados da Cioga do Campo, se a memória não me trai. Segundo ela, na altura me transmitiu, já estava alienado, embora não me dissesse para quem. Só mais tarde soube que fora o citado senhor a adquiri-lo.
Lembro-me muito bem dessa fase, de todo o pessoal, funcionário, do museu. O senhor Amaral que morava exactamente no "casarão e que faleceu por volta dessa altura.
Bom, não a maço mais. Um agradecimento sincero.

Vítor Ramalho disse...

Obrigada pela divulgação da petição.