Razao

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05/06/08

Pedrada no Charco

Confesso que cada vez mais vejo menos televisão. Jornais nem vê-los. Pela merda que estão, por mim, podem ir todos à falência. As razões são as que todos conhecemos. Deambulamos pelo marasmo de notícias vazias, da venda da banha da cobra, de comentários chatos e tolos que, em boa verdade, confesso, são proferidos por pessoas que, se não estão senis, engoliram a cassete do poder vigente. Ouvi-los na TV, então, é de fugir a sete pés. Ainda há pouco estava um assim a “lanzoar”, como diria o meu pai, no noticiário da TVI. Dissertava sobre as mil e uma razões que existem para que, descendo o petróleo nos mercados mundiais, os preços dos combustíveis não possam descer em Portugal. Enfim. Não há pachorra.
Mas eis que, por mero acaso, deparamos com uma entrevista surpreendente. Miguel Urbano Rodrigues a ser entrevistado pela Ana Lourenço na SIC Notícias. Há duas noites atrás, é certo. Mas ainda vou a tempo. Miguel Urbano Rodrigues, irmão do também escritor, Urbano Tavares Rodrigues, comunista assumido, e cada vez mais comunista (curioso!), tal é a coerência, delicia-nos com uma perspectiva do mundo actual que me surpreendeu pela positiva. Também ele, aos 82 anos, prefere a informação aqui, na blogoesfera, do que o lixo saído das rotativas. Formidável. De facto, um dos maiores pensadores portugueses contemporâneos, pensador comunista, como realçou Ana Lourenço no final. Aceito, independentemente da ideologia que não abraço, porque reconheci nas palavras de Miguel muito dos meus pensamentos sobre a situação do mundo actual. Alguns já por aqui escritos. Por isso deliciei-me. Eis alguém que toca na ferida, que chama os bois pelos nomes, que diz algo que sabemos ser verdadeiro, que nós próprios sentimos como tal. Miguel, dizendo-se materialista, mais parecia um idealista. Fala das FARC e de uma realidade na Colômbia que eu desconhecia em absoluto. Nesse assunto, senti que o Miguel vinha de outro planeta. Espera aí. Estou assim tão intoxicado pelo lixo noticioso? Terá ele alguma razão? Mas então e a Ingrid Betancourt de quem não falaram na entrevista? Lapso? E o seu pobre filho que implorava nas TVs pela saúde e libertação da mãe, raptada pelos malvados dos terroristas das FARC que a torturavam e faziam passar fome? O Miguel tinha uma perspectiva completamente diferente. Inversa da nossa. Mas o Miguel falou de muito mais, da decadência da nossa civilização, da regressão da humanidade, da inevitabilidade do fim desta civilização, tal como no passado assistimos à queda de Roma. Do trágico falhanço na implementação do Socialismo. Na dificuldade de implementar o Marxismo que, na realidade, nunca o foi. Defendeu Cuba e o seu regime. Indagado sobre a ausência de direitos humanos na Ilha, perguntou o que entendia Ana por Direitos Humanos? Que era um conceito muito subjectivo. Quais são afinal os direitos humanos dos mendigos que vivem nas ruas das nossas civilizadas cidades? Empestadas pela droga proveniente dos silos dos senhores que governam a Colômbia! Em Cuba existe educação e saúde para todos. Tem taxas de licenciados únicas no mundo. Enfim, arremessa-nos com uma perspectiva diferente, que nos faz pensar. Prefere dizer que é progressista em vez de esquerdista. Diz-nos que os problemas não se resolvem com sessões de esclarecimento num qualquer teatrinho. Os problemas actuais exigem muito mais do que isso. Afinal, Alegre nem sequer põe em causa a cúpula socialista, que nos impõe um governo neoliberal, imoral e repugnante, de direita pura e dura. Ao bom estilo Europeu, em nome da globalização dos interesses. Bem pior que o americano. Estamos num beco sem saída e por isso é preciso agir.Em suma, foi uma entrevista como há muito não via ou ouvia. Parabéns à SIC pelo bocadinho de verdadeira informação. Caso cada vez mais raro nos dias que correm. E obrigado ao Miguel Urbano Rodrigues pela lucidez e sabedoria. Faço votos para que o contratem como comentador. Juro que passaria a estar mais atento a umas Escolhas quaisquer, a umas Notas que não se soltam, ou aos telejornais da TVI.

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